Os romanos cultivavam uma ideia de serem “cidadãos do mundo” ou “cidadãos do cosmos”, cosmopolitas. Para eles, o mundo inteiro era sua pátria, todos os povos eram seu povo, e seu lar era onde quer que estivessem, ou todos os lugares em que estiveram.
Foi com esse pensamento que eu saí de Salvador dia 30 de janeiro de 2023 e vim para Buenos Aires. Saí porque quero ser um cidadão do mundo, e vim aqui porque precisava começar por algum lugar.
Acho que hoje temos acesso a tantas experiências alheias, tantos relatos, tantas vidas digitais, que de certo modo nos satisfazemos em consumir isso e decidimos não provar o mundo em prol de provar alguma comodidade. Eu sei que eu, durante minha larga carreira de leitor, me alimentei muito das histórias de outras pessoas, das aventuras dos personagens, dos mundos mágicos. Não me arrependo de nada – sei que tudo isso era uma forma de provar o mundo de dentro, o que é tão importante quanto provar o mundo de fora. Mas eu também sempre quis provar o mundo de fora. Nunca me bastou ler histórias, eu sempre ansiei por vivê-las. E quando se começa a viver, é como descobrir uma mina de ouro.
Eu não precisei sair de Salvador pra começar a viver. Acho que um ponto chave na minha aventura foi não ter saído de Salvador da primeira vez que tive chance. Antes de pertencer ao mundo, eu precisava aprender a pertencer à minha própria cidade. E foi graças a isso que hoje, há quatro meses em solo argentino, é o mais soteropolitano que me senti na vida. O mais baiano. O mais brasileiro.
E há uma identidade nova sobre a qual eu nunca havia pensado muito antes, mas que agora me encanta: a de latinoamericano.
Tenho que dizer também, para não ser descuidado, que antes de pertencer a qualquer lugar, eu tive que aprender a pertencer a mim mesmo. Mas essa é uma outra conversa, para um outro texto.
Faz alguns anos que eu comecei a pensar “Eu quero segurar a vida com as duas mãos”. Não sei se eu li isso em algum lugar – provável – ou se foi uma conclusão que cheguei, mas sei que foi uma decisão que comecei a fazer sempre. As decisões importantes são assim, há que fazê-las diariamente. Para mim, segurar a vida com as duas mãos quer dizer não se apartar dela. Estar envolvido na vida. Estar diante do mundo, junto com o mundo, dentro do mundo. Colocar os pés no mundo, e deixar que, romanamente, o meu lar seja onde quer que eu esteja.
Deixa um gosto diferente na boca viver suas próprias histórias.
Estarei contando essas experiências aqui não para se somarem ao catálogo de experiências alheias. Eu espero que em algum parágrafo o leitor se levante de onde estiver sentado – espero que em algum parágrafo o leitor tenha se sentado – e tenha grandes ideias, e vá vivê-las.
Estou agora vivendo as minhas.