Revista Polis

Notas sobre Poesia

Apesar do pouco tempo de vida da Polis, incontáveis vezes falei por aqui da importância fundamental da poesia, algo quase sublime e muitas vezes transcendental, que traz toda uma carga de imagens, símbolos, ordem, ritmo, estrutura, narrações e, claro, sentimentos; a matéria-prima de toda poesia são os sentimentos. Apesar disso, nunca falamos sobre a poesia em si e – crime ainda muito mais grave – eu mesmo nunca postei uma única poesia minha aqui no blog. Talvez porque eu me veja mais como um comentador e um articulador de diferentes (ou nem tanto) vias do conhecimento, de linhas de pensamentos e de conseguir encontrar algo válido em todas as coisas. Isso nem sempre é alcançado, mas permaneço na caminhada; no entanto, hoje vou começar a pagar essa dívida comigo mesmo e começar a falar sobre algumas coisas que penso e que, na maioria das vezes, não penso sozinho, sobre poesia, pois busquei o aconselhamento daqueles que foram muito melhores do que eu.

Conforme adiantei, toda poesia nasce de um sentimento. E podemos dizer que, quando não nasce de um, é colocada em movimento e obtém a sua unidade, a sua ideia geral, aquilo que chamamos por forma, de um sentimento. Quando comecei a escrever, era um adolescente muito apaixonado e muito amargurado pela vida (lugar-comum) e isso dava origem às minhas primeiras poesias; eu nada sabia sobre classificações gramaticais ou sobre conjugação, no entanto esses textos jorravam de mim como uma necessidade, algo que precisava fazer para poder estar vivo e assegurar um tanto de tranquilidade; conversava bastante comigo mesmo através delas, pois compreendia melhor aquilo que eu mesmo estava vivendo ou sentindo quando escrevia.

Isso nos leva a outro ponto que é muito importante, pois em relação à vida e as amarguras, elas passaram e portanto perderam a razão de aparecer nos textos, mas no entanto, permanece a poesia esclarecendo aquilo que eu mesmo sinto e, mais ainda, aquilo que eu estou vivendo, pois uma outra coisa que podemos afirmar sobre a poesia é que ela expõe uma realidade em diferentes níveis, é uma mensagem carregada de sentido, pois possui muitos graus de interpretação (acho que a palavra mais coerente seria assimilação, mas falemos disso num outro momento). Pois quando eu digo, “os olhos da menina brilham com a luz” não estou transmitindo nada mais do que isso que foi lido, a palavra está fechada, presa em seu sentido, é lógica e limitada; em contrapartida, quando digo “teu olhar ilumina os meus dias”, para além da pieguice, estou atribuindo ao olhar dela uma qualidade superior, sutil, coloco os olhos dela em uma condição semelhante ao sol com todo o sentido que esse grande ser representa. Que é o sol para nós? Luz, conotando clareza de pensamentas, certeza, alegria, confiança, consciência, tudo isso e muito mais. Portanto, como dizia um mestre da palavra: “o valor das palavras está não naquilo que encerram, mas no que libertam”.

E chego então no ponto mais alto da arte, do qual a poesia também participa: liberdade. Ainda que, veremos numa outra oportunidade, aprender a escrever não seja tão livre assim, escrever poesia é colocar um sentimento em movimento para abrir nossa consciência a outras realidades, e isso nos traz a liberdade, tanto porque abrimos isso ao mundo, como a nós mesmos, mas, para além disso, conseguimos perceber que aquilo que vivemos tem direções, forças, elementos que nos tiram de nosso mundo psicológico e os coloca sobre uma luz muito mais alta, muito mais universal. Esses dias eu refletia sobre o aprendizado e que todos aprendemos coisas que, se são verdades, serão verdades em qualquer lugar do mundo e em qualquer tempo que vivamos, as verdades têm uma força e um caráter universal. Isso quer dizer que aprender é abrir mão daquilo que é subjetivo, pois o fogo, se é fogo, queima em qualquer lugar do mundo, a água, se é água molha em qualquer lugar do mundo, as verdades são simples, ainda que sejam sutis, ainda que sejam difíceis, são simples e universais, mas muitas vezes não queremos abrir mão das nossas subjetividades; no entanto, se é um verdadeiro poeta, saberá libertar não só a si mesmo, mas libertar uma realidade para quem o lê e o escuta, pois um poeta tem um compromisso com o que é verdadeiro e é, desde sempre, um mensageiro do amor.

Sentimento, expansão e liberdade. Três aspectos da poesia que podem ser bastante ampliados. Foram aqui colocados ao acaso, não tem uma hierarquia, ao menos não nesse momento. Trarei depois outras coisas mais e estruturarei isso com detalhes, mas por ora, fiquemos por aqui, já temos alguns elementos para refletir e quebrar o silêncio de uma página de poetas que não falam sobre poesia.

 

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