Em muitos momentos ao longo da vida nos deparamos com a comunicação como sendo uma das necessidades das mais básicas. Em todas as etapas de nossas vidas existem momentos em que fazemos algo para quebrar a dor do isolamento, ainda que passemos a apreciar, com o passar do tempo, a nossa própria companhia.
O bebê, quando vem à luz, chora, mas chora porque anseia comunicar-se e estar junto ao colo da sua mãe, anseia estar em seu lugar e encontrar a sua paz. Na medida em que passa o tempo e crescemos, o que mude talvez seja a maneira, mas o objetivo a ser atingido permanece.
Passa o tempo, mas não a necessidade de comunicar-se e encontrar esse lugar, essa paz. Não… Já comunicamos outras coisas, aprimoramos nossa forma de comunicar, expressamos nossos sentimentos e pensamentos, e ainda que nada falemos, buscamos ouvir pessoas que falem por nós e participar de grupos onde nos sintamos representados.
Sem querer entrar em um debate sobre se devemos cuidar de nós mesmos ou se devemos cuidar dos demais, digo que essas duas posturas são complementares, não reforço nenhuma linha psicológica ou pseudo-psicológica, mas retomo aos clássicos que observavam a imensa relação entre o microcosmos e o macrocosmos, sendo essa diferença apenas aparente, uma diferença de grau: um é maior e o outro menor.
Também os antigos nos diziam que o ser humano é um ser social e gosto de pensar nessa perspetiva social baseada num princípio de generosidade, que é, a grosso modo, gerar para dar. Esse princípio, entendido assim dessa maneira, nos coloca que os seres humanos são capazes de destinar aos outros suas obras quando já estão plenos daquilo que têm a transmitir, quando já têm daquilo mais que o suficiente e então se colocam a dar, entregar, transmitir.
Por isso, buscando atender a esse princípio de generosidade e de conexão, criamos a Polis, pois é chegado o momento em que aquilo que cultivamos não cabe somente para nós, mas necessita ser compartilhado. Sentimos a necessidade de oferecer a outros as reflexões e experiências que passamos quando tomamos contato com as profundezas da literatura, que, em certa medida, é a profundeza do coração humano e os cumes mais elevados do pensamento e da filosofia.
Talvez o façamos como náufragos, em uma ilha, que mandavam mensagens numa garrafa, na esperança de que um dia algum outro ser viesse a lê-la. Talvez permaneçamos sempre solitários, fechados como numa tribo, afinal quem atualmente viria a frequentar um blog que fala sobre aspectos profundos da Arte, Literatura e da expressão da alma humana, num mundo – já é de praxe dizer – tão acelerado e superficial? Não sabemos ao certo e não podemos garantir, mas podemos assegurar: de onde falamos a terra é firme e a água emana doce da terra.
Bem-vindos à Polis. Que possamos fazer dessa ilha uma cidade.