O porquê dessas perguntas chegarem a mim nesse momento dos inícios da nossa pólis se deve precisamente à necessidade que temos de saber qual a finalidade de tudo o que fazemos, o que é mais importante e por onde devemos começar? O conceito de vocação parece responder bem a essas três perguntas, assim como às outras três anteriores.
Caminhando por esta terra inabitada, buscando o espaço adequado para começar a construir as minhas edificações, me assalta novamente antigas perguntas: quem sou, de onde vim, para onde vou? Não consigo imaginar o ser humano que jamais fez a si mesmo essas perguntas – para mim beira ao impossível – seja dessa forma, formulada diretamente, ou com algumas variações ou divagações.
Vocação é uma palavra que vem do latim “vocatio” que quer dizer chamado. Mas chamado para quê? Chamado para a vida; a vida nos chama para vivê-la e necessitamos aprender a ouvir o seu canto nas coisas mais banais que fazemos. Onde a vida me chama para vivê-la? Devemos aprender a ouvir se quisermos descobrir aquilo que somos, nossa natureza e para onde iremos com ela se quisermos ser realmente felizes.
E, pessoalmente falando, a minha jornada começou realmente quando me dei conta da necessidade vital que é descobrir a missão que temos na vida. Isso não uma mensagem ingênua de auto-ajuda, ou uma balela coaching, mas uma manifestação da vida mesma; ninguém é tão miserável que não tenha nada para dar. Todos possuem um tesouro interno e um lugar no mundo para ocupar e exercer, nesse ponto, a verdadeira natureza que temos.
Encontrando o pilar fundamental
O elemento vocacional pode ser discutido por longas e longas páginas, porém quero me ater, para este momento, no aspecto muito íntimo que nos coloca que apenas nós mesmos podemos dizer qual é a nossa vocação, apenas nós podemos dizer aquilo que chama à nossa alma e preenche nossa vida de sentido, dá a ela um aspecto brilhante, otimista e unitário. Mas podemos retomar a essas questões noutro momento, para agora basta dizer que a vocação é um elemento que nos coloca numa postura de dação, nos exige virtude (que quer dizer força), e nos outorga certas particularidades.
A generosidade, e as virtudes no geral, andam um tanto fora de moda, no entanto, a vocação é um elemento atemporal no homem, e um eixo norteador das suas aptidões. O ser humano necessita ser construído e construído desde dentro, ou seja, “quem sou?” e a partir daí posso entender minha natureza, ou seja “de onde vim?”, e enfim, meu destino “para onde vou?”.
Ou seja, no fim das contas, retomamos de onde partimos e reencontramos a nós mesmos, e todos esses braços de rio (as diferentes atividades em nossa vida) são como fragmentos de um espelho que nos mostram, quando o remontamos, a inteireza de nosso Ser… Mas acho que acabei por devanear demais sobre coisas que realmente precisam de mais espaço… conforme dizia no início, a primeira pergunta “quem sou?” deve ser respondida e não ser esquecida, é necessário que a memória esteja bem alimentada e para isso precisamos de um Museu.
Isso coloca-nos no lugar apropriado para nós na vida, por isso, a pedra fundamental do homem é a vocação pois nos dá nossa missão a partir da nossa verdadeira natureza. O que devo realizar nesse instante de tempo, nesse sopro de vida? Dá-nos também uma unidade na vida, pois todos os elementos dispersos na alma ganham agora um mesmo sentido e convergem para um mesmo ponto, pois partiram de um mesmo ponto vital, assim como um grande rio recebe afluentes de vários pequenos braços de rio e acabam por chegar, inexoravelmente, ao mar.
Certo, vamos começar pelo Museu.