Revista Polis

Em busca de um herói: reflexões sobre o 2 de Julho

Tivemos, em geral, uma infância muito midiatizada, muito voltada para a cultura dos “super-heróis”, pessoas que adquiriam poderes sobre-humanos e que os usavam para salvar o planeta, aplicar justiça, enfrentar algum vilão ou apenas para ser o “bom amigo da vizinhança”. E quem nunca, nessa mesma infância, não quis colocar uma fantasia de super-herói, e por alguns segundos fingir voar, ter super força ou lançar raios com as mãos? Essa prática de imitar a alguém que vemos como “super” é uma aspiração a ser esse alguém e um exercício de se tornar isso. Mas não importa quantas vezes tentemos fazer o controle da televisão vir até a gente com o poder da mente, simplesmente não está em nós a capacidade de dobrar a gravidade, e esse herói modelo se torna apenas um exercício de imaginação, um sonho a nunca se concretizar.

Tivemos heróis inalcançáveis. O abismo entre nossos poderes e os deles se fez muito grande, especialmente porque não compreendemos que o “super” é só um símbolo do “normal” se esticando um pouco mais. Esse é um abismo possível de cruzar, mas difícil, e enquanto construímos essa ponte não podemos ficar vagando a esmo, sem saber quem nos tornar – porque no final, é isso que nos mostram nossos heróis, quem nos tornar.

Afortunadamente, temos História. Sem me estender muito sobre ela, queria dar uma palavra de apreciação, de como a história oferece um arsenal infinito ao qual explorar, de como ela nunca nos deixa desamparados. Ela é como uma enorme biblioteca, na qual estão reunidas todas as respostas para todas as perguntas já feitas pelo ser humano, que segue reformulando as mesmas perguntas e recebendo da vida as mesmas respostas.

Se nos detivermos sobre a história da Independência do Brasil na Bahia – ou sobre a história da Bahia como um todo – encontraremos muitos heróis. Não “super” heróis com seus “super” poderes. Pessoas como eu e você. E que se tornaram heróis porque tiveram a coragem de fazer o que era necessário, porque lutaram e defenderam algo maior do que suas próprias vidas, porque tinham um ideal, princípios, coisas incorruptíveis pelas quais era preferível morrer do que trair. Porque agiram no mundo.

De minha parte, sinto um certo orgulho de poder dizer que essa história é a história da minha terra. De poder me dizer baiano, soteropolitano, sangue desse mesmo sangue que lutou por liberdade, justiça, esperança, união. De saber que eu venho de um povo que, quando teve seus princípios ameaçados, não ficou sentado esperando que outro resolvesse, mas que levantou e foram eles próprios à luta, se unindo independentemente de qualquer diferença, porque esses princípios que eles defendiam ardiam em seus peitos mais forte do que o medo, a indiferença ou o preconceito.

Eu gostaria que valorizássemos mais esses heróis. O abismo entre nós e eles não é tão grande. Talvez não tenhamos batalhas para lutar, colonizadores para expulsar, povos para libertar, mas seguramente temos desafios em nossos dia a dia, ou nos deparamos com situações de injustiça, ou somos nós os injustos, e tudo isso é uma pequena batalha que se trava, e tudo isso requer que sejamos um pouco heróis para enfrentar. E é bom saber que não precisamos ir tão longe para buscá-los. E que talvez sim, seja exigido de nós nos posicionar de alguma maneira mais firme, sobre algo maior que nossas próprias vidas, mas que para ter nesse momento a coragem de assumir o papel que nos é oferecido, temos que ter exercitado, como a criança que coloca uma fantasia de super herói, praticando e imitando – só que nesse caso, realmente os poderes despertam.

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