Parece, para mim, que é algo muito intrínseco do ser humano querer sentar-se juntos ao redor da mesa. Digo isso de maneira alegórica – é algo muito intrínseco do ser humano querer estar junto.
Nas casas cheias, rotinas agitadas e cidades grandes que vivemos, sempre que nos pomos a refletir nos deparamos com a necessidade ou mesmo o aconselhamento de tirar um tempo para si, de estar só consigo mesmo, de estabelecer-se internamente. Esse é um movimento importante para nós, que sendo tomados em nosso dia a dia por ruídos externos constantes, muitas vezes perdemos a habilidade de escutar nossa voz interna, de conhecer nosso mundo interno, nossos pensamentos, sentimentos, ideias, porque estamos ocupados com os pensamentos, sentimentos e ideias circundantes e alheios.
Mas fazer essa viagem interna é como fazer um mergulho no mar. Nos equipamos com oxigênio suficiente para X tempo, vamos pouco a pouco ganhando profundidade, até encontrarmos uma profundidade limite – ou limite por enquanto, para esse mergulho, mas já mais fundo do que o anterior e certamente mais raso do que o próximo – e nesse ponto algum tesouro. Sempre há tesouros a serem encontrados no nosso mar.
Esse mergulho fazemos sozinhos. Não há outra forma. Por melhor que alguém nos conheça, por mais próximo que seja, há lugares dentro de nós que só nós mesmos podemos alcançar.
Mas encontrados esses tesouros, voltamos à superfície, voltamos ao dia, ao mundo externo, e esse mundo externo não pode ser solitário. Ele foi feito para ser em conjunto. Se não, qual o sentido dos tesouros? Seremos como os dragões de lendas que acumulavam todo o tesouro no meio de suas montanhas apenas para adormecer por séculos em meio a ele e impedir que outros o possuam? Será que faz sentido guardar para si as pérolas que nosso oceano nos apresenta? Penso que não. Penso que, se hoje, escavando alguma mina, descobríssemos alguma pedra preciosa até então desconhecida pela humanidade ou por aqueles ao nosso redor, não íamos escondê-la a sete chaves. Somos muito ruins em guardar segredos. Talvez não a exporíamos para todo o mundo, mas certamente a mostraríamos para alguém mais próximo, e talvez para algum outro, que tendo recebido esse segredo também o passaria adiante. Chamem de fofoca se quiserem, mas o fato é que foi nesse boca a boca que se desenvolveu a humanidade.
Quando convivemos, temos a oportunidade de, aos poucos, ir apresentando nossos tesouros. Creio que conhecer alguém é conhecer seus tesouros e poder também apresentar os nossos próprios, e é por esses tesouros que estabelecemos vínculos, sejam eles profundos e longos ou ainda finos e recém firmados. Não há nada que desperte mais minha felicidade do que a oportunidade de compartilhar algo de valoroso com os outros, que apesar de muitas vezes não saberem, têm compartilhado algo de valoroso comigo também. Porque o bom dos tesouros é que eles se multiplicam, e sempre que conhecemos um novo, podemos também incorporá-lo a nossa coleção. Um bom hábito que apreciamos em um amigo pode vir a ser nosso também, uma atitude admirável, ou mesmo a imagem de um sorriso que podemos incorporar por sua beleza e sinceridade, coisas que transparecem na face humana e que compõem catedrais de canções em quem as atesoura de verdade.
Ontem sentei ao redor da mesa com pessoas que, faz pouco tempo, ganharam um lugar no meu coração. Talvez eles ainda não saibam os tesouros que regalaram, mas fiquei feliz de poder ter regalado algo para eles também – o tempo e esforço de fazer um jantar junto com alguns deles para todos comermos, o sorriso e a alegria de estarmos juntos, e os pequenos tesouros meus que vou abrindo. Estou encantado com cada tesouro que me é apresentado… E fiquei pensando sobre essa convivência, e que pérola da vida ela é, que coisa linda e engrandecedora compartilhar tempo, ações, palavras, vida. Conviver, viver junto, essa é uma das maiores belezas da vida humana.
Eu amo olhar as paisagens da natureza, sejam elas grandes como o mar ou pequenas como uma flor. Eu amo a arte, seus traços em telas, as piruetas de uma canção, os versos de uma poesia e o modo como ressoam dentro de mim. Eu amo os animais, suas particularidades e jeitos, suas formas perfeitas. E, bem, eu amo um bom prato de comida, que fica mais bonito ainda na ânsia pelo sabor. Mas ainda não encontrei no mundo nada mais bonito do que o ser humano. Cada ser humano, para mim, reúne uma beleza infinita que jamais cansaria meus olhos, jamais cansaria minha mente, jamais cansaria minha apreciação. Não precisamos de muito. Só precisamos uns dos outros.