É interessante como catalogamos toda uma categoria de pensamentos sob o rótulo de “perguntas”. E talvez seja justo uma das maiores particularidades do pensamento humano, aquilo que nos permite desdobrar outras coisas. As perguntas surgem das frases incompletas, do que ainda não sabemos, do que não fazemos, surgem da presença daquilo que é misterioso ou desconhecido ou oculto. Como estrutura de linguagem, talvez elas sejam um dos maiores símbolos da tal chispa da mente, que desperta o ser humano ao ser humano.
Vivemos no mundo da super informação. Não temos tempo de fazer perguntas, porque a todo momento estão nos oferecendo mil respostas a questões que nem mesmo tínhamos proposto. Há uma insistente necessidade em suprir todas as dúvidas, e a própria existência de dúvidas é vista com suspeita – como dentre todas as informações disponíveis, alguém ainda não formulou uma conclusão? E assim recebemos pensamentos prontos, ideias prontas, e nossas mentes se condicionam a apenas repeti-las incessantemente, enterrando toda possibilidade de criatividade, imaginação, originalidade, e diria até mesmo enterrando toda possibilidade de inteligência.
Ao não nos fazermos perguntas, viramos receptáculos de respostas alheias. As respostas, enquanto categoria de linguagem, são o aparato que temos para agir. São a base, as teorias, as ideias sobre as quais construímos nossas ações e por conseguinte, nossas vidas. Ter respostas alheias significa que estamos vivendo uma vida alheia, que nos estamos deixando re isso da reflexão – e buscar compreender, e a partir disso descobrir quais outras perguntas inquietam nossos corações. Com as respostas, vamos construindo um mapa, cujo destino final é a vida que queremos construir e cuja superfície mostra cada estrada e paradas que temos que tomlevar por qualquer estímulo externo, que não conduzimos a nós mesmos. Pensamos estar fazendo escolhas, mas estamos apenas seguindo a direção que a mão bem visível do outdoor da vida atual nos aponta.
Talvez muitos estejam satisfeitos com isso, com seguir a manada. Mas se queremos trilhar a vida com os olhos abertos, queremos conduzir a nós mesmo, queremos encontrar nossas próprias respostas, te proponho algumas perguntas sobre as quais podemos refletir – e mais adiante podemos falar sobar para chegar até lá.
Quem sou?
Começamos com as 3 perguntas básicas da filosofia. Todas podem ser entendidas em diferentes níveis, e isso vai depender do quanto você já trilhou para dentro de si. Vou propor um nível mais acessível, porque quero que essas perguntas cumpram seu papel inicial de chispa, mas para aqueles que já “chisparam”, perguntar-se-las uma e outra vez ajuda a manter o fogo acesso.
Descobrir quem somos é um trabalho para toda a vida. Mas podemos começar. Podemos estabelecer, em um nível mais superficial, quais os nossos gostos, qual a nossa aparência, quais características normalmente demonstramos, quais os nossos hábitos, que rotina temos, que escolhas normalmente fazemos, quem são as pessoas com as quais nos relacionamos e como agimos com elas, quais são nossos medos e sonhos. Tudo isso, num primeiro momento, nos ajuda a ter uma imagem geral. Como um artista que separa os pincéis, tintas, papéis, que vai precisar para fazer sua obra.
De onde vim?
Essa é uma pergunta que suscita grandes reflexões. Mas comecemos por respostas mais fáceis, que estão bem diante de nós. Pensemos em nossas famílias, nas pessoas que nos criaram, naqueles que influenciaram na nossa criação, na cidade onde nascemos, na casa, nos espaços que estivemos, nas coisas que vivemos, nos acontecimentos que nos marcaram. O quanto disso ainda levamos? O quanto disso deixamos para trás? O quanto disso queremos levar? O quanto disso queremos deixar para trás?
Para onde vou? E para onde quero ir?
Faço essa dupla pergunta porque quero ressaltar a diferença entre elas. Pensar para onde vamos é pensar em tudo o que fizemos no passado, tudo o que fazemos agora, e a partir desses hábitos, comportamentos, ideias, conseguir chegar a uma conclusão realista sobre para onde vai nos levar o caminho que estivemos trilhando. Nem sempre essa é uma resposta satisfatória.
Agora pensar para onde quero ir é deixar correr livre os sonhos. Imaginar seu futuro, quem queremos ser, onde queremos estar, o que queremos fazer. Qual final, ou mais, qual continuação queremos para nossa história. Fazer essas perguntas juntas implica reconhecer que talvez para sair de onde estamos e chegar onde queremos estar, há que mudar de caminho.
Se eu só tivesse uma semana de vida, o que faria?
Essa pergunta pode despertar todo tipo de revelação sobre nós mesmos. Já me ocorreu dela servir como uma chamada vocacional, já me ocorreu de ajudar a valorizar mais coisas que eu estava subestimando. É importante que façamos com seriedade o exercício de imaginar isso. E que também avaliemos, ao final, se acreditamos que as coisas com as quais ocuparíamos os nossos últimos dias de vida realmente têm o valor que gostaríamos de dar a nossa vida.
Por que?
Adicionar isso ao final de qualquer pensamento, por mais irrisório que pareça. “Quero comer pizza”, por que? “Não gosto de tal pessoa”, por que? “Minha cor favorita é azul”, por que? Não precisa entrar numa eterna dúvida de si mesmo, mas o objetivo é compreender de onde vem esses pensamentos. Certamente há um motivo para que você queira comer pizza, ou para não gostar de tal pessoa. E às vezes a própria ocorrência de não encontrar motivos já é uma resposta. Entender o porquê das coisas nos ajuda a propor nossas próprias respostas, nossas próprias leituras do mundo e de nós mesmos, e com isso poder escolher melhor os caminhos que vamos seguir. Mas cuidado com a neurose, têm coisas que vamos gostar simplesmente porque sim e não vale a pena ficar cavando, é só sobre não tomar a vida como algo pronto, mas sim desenrolar o novelo.

Deixo essas 5 perguntas como faíscas, que se bem alimentadas certamente suscitarão muitas chamas, muitas outras perguntas que podem surgir. Podemos explorar mais isso em um outro texto, mas que fique claro que as perguntas são apenas o início, e que não devemos nos perder nelas. Elas estão aí para que possamos encontrar respostas, por isso não duvide eternamente das respostas que encontrar, mas sim as teste, e as incorpore, porque o mapa que mencionei não se desenhará com interrogações, mas sim com o que encontrarmos depois delas.