Revista Polis

05 | Os caminhos que tomamos

Querido amigo Viajante,

Faz-se já um bom tempo desde que estivera pelos lados de cá, na ilha onde a terra é firme e a água emana doce da terra. Faz tempo que não o vejo e contemplo seus esquisitos costumes, certamente mesclados com as influências de toda parte do mundo. Aqui onde estou, deixei de contar os dias e me oriento pelos astros que traçam seus caminhos, contam suas histórias e deixam-nos um mapa no céu. Saibas então que podes retornar, quando estiver com os teus pés cansados ou necessitar abrigar-se da tempestade, na vida, não é apenas por conta da chuva que passamos tormentas. Isso me leva responder suas últimas perguntas.

Em vida, todos temos nosso fardo que carregar, nossas feridas a curar, pessoas para ajudar e problemas a resolver. Essas coisas podemos não levar com um peso, mas somente podemos fazer isso se somos fortes o suficiente; se nada lhe pesa, pergunto-lhe se já encontrastes em algum lugar, coisa alguma pela qual se comovesse e sentisse no dever de agir, atuando no mundo para limpá-lo um pouco. Não estou falando de coisas grandiosas demais para o tamanho de uma única pessoa, apenas evoco à tua memória àqueles momentos em que pudestes tu seres tu mesmo e as ações as quais fizeste brotaram diretamente de teu coração. Todos temos alguma responsabilidade em vida e a vida sempre nos traz algo do tamanho adequado às nossas forças, mas nunca nos deixará sem um peso, pois é isso que nos faz mais forte, mais firmes e, acredite se quiser, mais livres, pois não acredito que não tens do quanto é libertador superar a si mesmo nos momentos de maior dificuldade e ser melhor hoje do que se era em dias anteriores.

E é justamente por isso que me afastei da turba dos homens. Tu já observaste, certamente, como eles correm para lá e para cá, sem olhar para o chão que os seus pés pisam e nem para o céu onde moram os astros, sem saber o que querem da vida e, mais imponte, sem saber o que a vida pede e quer deles… Tudo isso é uma influência negativa e como se pode ajudar as pessoas a crescerem e se desenvolverem ante tantos elementos diversos? Aqueles que querem encontrar essas coisas de que falamos, e deparar-se com aquilo que possuem de mais valoroso não se contam ao montes, são sempre minoria ante a turba que não sabe se orientar. Já me decepcionei bastante em relação a como as pessoas guiam-se na vida e aquilo que buscam, mas encontrei a tranquilidade, sabendo que “há que caminhar”, mas cada um trilhará o caminho quando decidir por isso.

Já observastes um jardineiro atuando? Como rega as mudas com constância e como trata, principalmente, de que o jardim não possua ervas daninhas para atrapalhar o crescimento das plantas? Da mesma maneira, posso dizer que busco ser um jardineiro e não me isolei das pessoas, mas as busquei trazer para um ambiente onde as ervas daninhas não destruam aquilo que é construído com tanto esforço e só pode ser fundamentado pelo tempo, uma árvore, quando está crescida, não pode ser morta pelas ervas daninhas, na verdade, estas nem crescem ao seu redor. Mas, para chegar a ser uma árvore frondosa, há que se desenvolver raízes profundas e muito bem fincadas ao centro da terra, naquele lugar dentro de nós que o tempo não passa, que o tempo já não segue a ordem comum, mas aparece para nós em uma ordem de prioridades e valores. O sol mantém-se afastado dos humanos e, mesmo assim, a sua luz é responsável por gerar toda a vida que existe. De onde está, cumpre o seu papel perfeitamente. Assim eu também busquei imitar e, afastado daquilo que é nocivo, me pus na distância adequada, onde aqueles que queiram conhecer-se podem contar com tudo o que posso compartilhar e ajudar. Que apesar de ser pouco é aquilo que tenho de mais precioso; não tenho riquezas tão ansiadas por muitos, posso apenas oferecer minha vida e o meu coração.

Se algum conselho eu pudesse te dar em relação a isso é exatamente sobre a vida e sobre o coração: cada segundo que passa é um tempo que perdemos e já não o temos, para falar a verdade, nada temos que podemos chamar de nosso, mas a oportunidade que a vida nos deu de vivê-la é única. Eu diria para aproveitar ao máximo o seu tempo, independentemente de onde estiveres, colocando-se integralmente em todas as coisas, ou seja, “Para onde quer que fores, vai todo, leva junto teu coração”

Cuida dos teus pés

O Náufrago

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *